segunda-feira, 17 de março de 2008

Se minha perna falasse!*

O que você faria se fosse dormir com todos os órgãos do corpo em perfeito funcionamento e atividade, e de repente percebesse, ao acordar, que durante a noite uma de suas pernas se desmembrou do corpo? Ao despertar, sem poder se levantar, você se daria com sua bela e formosa perna olhando-o com um sorriso sarcástico.
Com certeza, ficaria indignado com tal situação e diria a ela - a perna - que você sempre buscou fazer o melhor por ela, colocando boas calças e fazendo exercícios. A perna, por sua vez, rebateria dizendo que nada do que você fez para ela, foi pensando nela, mas sim nos benefício que poderia tirar. Além do mais, para você, a única função da perna é carregar o seu corpo, e por isso não se importa nem ao menos se está barrigudo ou não.
Essa possibilidade questiona se realmente olhamos nosso corpo como um todo integrado ou como partes isoladas. O mesmo se repete no Universo, num plano muito maior. Existe um constante desconforto causado pela preocupação sobre a situação atual e, principalmente, futura do planeta e tudo o que ele contém. Dessa maneira, numa perspectiva de unidade, a relação do homem com a natureza deve ser apreciada de forma extremamente comprometida.
O filósofo francês Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955), em sua visão holística do mundo, pode dar, a partir de suas teorias, grandes contribuições à questão dos problemas ecológicos atuais. Além da filosofia, o padre jesuíta deixa apontamentos teóricos que vão da geologia à teologia, passando pela física, química, paleontologia e antropologia.
Para Teilhard de Chardin, o homem e a natureza estão em uma profunda co-relação. Ele aponta em suas obras a existência de um Fora das Coisas e de um Dentro das Coisas. Esses dois planos são co-extensivo um ao outro e estão contidos desde um átomo até o ser humano. O primeiro é o aspecto material, enquanto o segundo é constituído de toda forma de interioridade.
Segundo o filósofo francês, há uma lei de Complexidade-Consciência que rege o Universo. Essa lei nos assegura que tudo o que existe de material na Terra tem consciência, mas é o homem o ser mais evoluído da criação. Ele é o único que sabe que sabe. Essa realidade do homem integrada ao Cosmos, ocasiona a Evolução, da qual o próprio homem é o centro. Todavia, é preciso estar atento para perceber que essa Evolução se dá com o esforço humano na promoção evolutiva de toda a Terra.
No seio da textura cósmica bi-facial que engloba o Fora e o Dentro das Coisas, respectivamente subordinadas à energia tangencial ou radial, flui misteriosamente uma Força Fundamental. A energia tangencial torna o elemento solidário a todos os outros elementos da mesma ordem que ele mesmo no Universo. A energia radial, por sua vez, é a força que integra e interioriza cada vez mais os elementos materiais e corresponde à dimensão psíquica ou espiritual de todo o processo de evolução da matéria.
Portanto, vê-se que para Teilhard de Chardin não há como separar o homem da natureza, pois existe uma Força Fundamente agregando e plasmando todos os elementos do sistema cósmico. Partindo dessa teoria, o ser humano, que é ser pensante, deve estar atento às questões ecológicas.
Muitas vezes, porém, não temos uma relação de integração com a natureza que nos cerca, como é proposto pelo filósofo francês. Assim como fazemos com nossas pernas, não a valorizando como parte do corpo, também não damos o devido valor à natureza e só a utilizamos a nosso bel prazer. Não existe uma relação de superioridade que possa medir se é mais importante o corpo ou a perna. Ambos são importantes e, assim como o homem e a natureza, tudo deve estar em harmonia.
*Artigo elaborado no P.A. de Introdução de leitura e escrita de textos filósoficos sobre o filósofo Pierre Teilhard de Chardin

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