sábado, 29 de março de 2008

Egoísmo: mal ou bem?




Vídeo produzido pelo grupo do 3º ano de Filosofia da PUCPR (2008) baseado no artigo de Jair Barbosa "Mau radical e terapia em Schopenhauer", do livro "Filósofos e terapeutas - em torno da questão da cura", organizado por Daniel Omar Perez.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Em torno da questão da cura

A introdução do livro Filósofos e terapeutas: em torno da questão da cura, publicado pela editora Escuta, São Paulo, 2007, escrita por Daniel Perez, organizador da obra, doutor em Filosofia pela UNICAMP e professor da PUCPR, aborda como tema o tratamento que alguns pensadores deram à questão da cura ao longo da história da Filosofia. Para tal propósito o autor se vale de alguns filósofos, tais como: Pitágoras, e sua seita, Diógenes, Fílon de Alexandria, Rousseau, dentre outros. O objetivo do professor é expor que, em vinte e cinco séculos de pensamento crítico, a busca de uma medicina do corpo e da alma não cessou de acontecer.Comprovando isto, Perez apresenta os seguintes argumentos, utilizando-se dos pensadores citados acima: no primeiro destaca-se um silêncio profundo que visava à temperança, o controle dos desejos, a purificação espiritual, etc. No segundo, e também nos cínicos em geral, optava-se em viver sem artifícios, uma vez que pensavam que a origem das doenças estava no distanciamento do homem da natureza e a cura consistia na volta dele para ela. O autor trás à tona, também, Fílon de Alexandria, que ponderava que a cura do corpo e da psique estava no encontro com Deus no deserto e na renúncia às coisas tidas como mundanas.Na modernidade o organizador do livro trás à luz, alguns fragmentos de Rousseau que via na distância entre o ser humano e a natureza a origem das enfermidades. Este filósofo, segundo Perez, dava ênfase ao ideal socrático: “conhece-te a ti mesmo”, porque se conhecendo o homem estaria em um estado de natureza no qual seria desnecessário o uso de remédios e o auxílio dos médicos.Por fim, é possível perceber que o autor procura defender a tese de que a filosofia contribuiu na busca da cura ou, no mínimo, na diminuição das dores que tanto afligem os homens e que essa foi uma preocupação que nunca se ausentou das obras dos pensadores clássicos.

EM BREVE: JOVEM: BUSCA E CUIDADO DE SI


O grupo do 3º período do curso de filosofia da PUCPR, Devir Produções, estará, em breve, produzindo um vídeo acerca da busca e do cuidado de si numa perspectiva da juventude de hoje. Destinado ao público do ensino médio, ele iniciará com uma introdução contextualizando o tema, na qual será feito um breve debate com alguns adolescentes sobre o que eles pensam da importância do autoconhecimento e do cuidado de si. Em seguida, o vídeo tentará expor algumas idéias de filósofos sobre o mesmo assunto, baseadas em artigos do livro publicado pela Editora Escuta (2007), Filósofos e terapeutas – em torno da questão da cura, organizado por Daniel Omar Perez. Serão selecionadas, ainda, algumas músicas para animar o vídeo, que contará, ainda, com um caderno didático de atividades, contendo aproximadamente a mesma estrutura do vídeo e servirá de complemento do mesmo. Constituir-se-á de uma introdução e de quatro artigos referentes aos sub-temas apresentados no audiovisual, com exercícios de fixação ao final de cada um deles e algumas fotos ilustrando o(s) tema(s).
A publicação do material está previsto para o dia 31 de maio, na PUCPR, juntamente com outras produtoras que também estão elaborando semelhante trabalho de pesquisa em variados focos filosóficos. Não perca!

Devir Produções

Antonio Macedo

Charles Fernando

Edimar Moreira

Izaquiel Melo

Tiago Evaristo

segunda-feira, 17 de março de 2008

Se minha perna falasse!*

O que você faria se fosse dormir com todos os órgãos do corpo em perfeito funcionamento e atividade, e de repente percebesse, ao acordar, que durante a noite uma de suas pernas se desmembrou do corpo? Ao despertar, sem poder se levantar, você se daria com sua bela e formosa perna olhando-o com um sorriso sarcástico.
Com certeza, ficaria indignado com tal situação e diria a ela - a perna - que você sempre buscou fazer o melhor por ela, colocando boas calças e fazendo exercícios. A perna, por sua vez, rebateria dizendo que nada do que você fez para ela, foi pensando nela, mas sim nos benefício que poderia tirar. Além do mais, para você, a única função da perna é carregar o seu corpo, e por isso não se importa nem ao menos se está barrigudo ou não.
Essa possibilidade questiona se realmente olhamos nosso corpo como um todo integrado ou como partes isoladas. O mesmo se repete no Universo, num plano muito maior. Existe um constante desconforto causado pela preocupação sobre a situação atual e, principalmente, futura do planeta e tudo o que ele contém. Dessa maneira, numa perspectiva de unidade, a relação do homem com a natureza deve ser apreciada de forma extremamente comprometida.
O filósofo francês Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955), em sua visão holística do mundo, pode dar, a partir de suas teorias, grandes contribuições à questão dos problemas ecológicos atuais. Além da filosofia, o padre jesuíta deixa apontamentos teóricos que vão da geologia à teologia, passando pela física, química, paleontologia e antropologia.
Para Teilhard de Chardin, o homem e a natureza estão em uma profunda co-relação. Ele aponta em suas obras a existência de um Fora das Coisas e de um Dentro das Coisas. Esses dois planos são co-extensivo um ao outro e estão contidos desde um átomo até o ser humano. O primeiro é o aspecto material, enquanto o segundo é constituído de toda forma de interioridade.
Segundo o filósofo francês, há uma lei de Complexidade-Consciência que rege o Universo. Essa lei nos assegura que tudo o que existe de material na Terra tem consciência, mas é o homem o ser mais evoluído da criação. Ele é o único que sabe que sabe. Essa realidade do homem integrada ao Cosmos, ocasiona a Evolução, da qual o próprio homem é o centro. Todavia, é preciso estar atento para perceber que essa Evolução se dá com o esforço humano na promoção evolutiva de toda a Terra.
No seio da textura cósmica bi-facial que engloba o Fora e o Dentro das Coisas, respectivamente subordinadas à energia tangencial ou radial, flui misteriosamente uma Força Fundamental. A energia tangencial torna o elemento solidário a todos os outros elementos da mesma ordem que ele mesmo no Universo. A energia radial, por sua vez, é a força que integra e interioriza cada vez mais os elementos materiais e corresponde à dimensão psíquica ou espiritual de todo o processo de evolução da matéria.
Portanto, vê-se que para Teilhard de Chardin não há como separar o homem da natureza, pois existe uma Força Fundamente agregando e plasmando todos os elementos do sistema cósmico. Partindo dessa teoria, o ser humano, que é ser pensante, deve estar atento às questões ecológicas.
Muitas vezes, porém, não temos uma relação de integração com a natureza que nos cerca, como é proposto pelo filósofo francês. Assim como fazemos com nossas pernas, não a valorizando como parte do corpo, também não damos o devido valor à natureza e só a utilizamos a nosso bel prazer. Não existe uma relação de superioridade que possa medir se é mais importante o corpo ou a perna. Ambos são importantes e, assim como o homem e a natureza, tudo deve estar em harmonia.
*Artigo elaborado no P.A. de Introdução de leitura e escrita de textos filósoficos sobre o filósofo Pierre Teilhard de Chardin

sexta-feira, 14 de março de 2008

A coragem, a fortaleza e a honra*





A coragem, a fortaleza e a honra são virtudes que desde Platão estão na base dos homens que se tornaram inesquecíveis na história. O filme Gladiador pode apresentar com muita propriedade tais elementos. A história relatada no filme remete-se a Maximus que luta em defesa de sua pátria que está sob o comando de Marco Aurélio. Após vencer uma de suas lutas, o imperador o convoca e lhe pede para que o substitua no império depois de sua morte, para que assim pudesse se concretizar o sonho de democracia. Ele luta contra todos e contra tudo, de modo particular contra o filho do imperador, e por fim ele alcança seu objetivo.

Para Maximus, a realização estava em trazer a democracia para o povo, ou seja, cumprir o que Marco Aurélio lhe havia pedido. Para tal atitude ele enfrentou todas as inteperes que surgiram, como por exemplo a morte de seu filho e de sua esposa. Nesse contexto a coragem de Maximus ao enfrentar o temível Cômodos foi de uma grandiosidade inexplicável, pois como tinha convicção de sua missão não hesitou de enfrenta-lo diante do povo. Sua fortaleza será a de nunca perder de vista a meta de deseja alcançar. Por fim, o que entava em jogo era a honra, a dele e a de Marco Aurélio. Sua sede de vencer consistiu num ato de reverência e amor a seu país, a tal ponto que entrega sua vida por amor aos outros.


Comentário sobre o filme Gladiador

Qual é o seu nome?*


─ Você conhece a Maria?
─ Que Maria?
─ A Maria do Zé ...
A literatura é sempre um meio que por excelência consegue apresentar, com seu jogo de palavras, textos esplêndidos, porém, há elementos que estão guardados. Esses geralmente são os mais preciosos. Isso se pode observar desde a clássica obra de Sófocles, Antígona, até a atual obra de João Cabral de Melo Neto, Morte Vida Severina.
O nome é o que identifica cada pessoa. Em Antígona parece peculiar o fato do guarda não ter nome. O nome só é concedido aqueles que vivem nas proximidades do rei, do poder. Pior que não ter nome é ser portador de desgraças, como é a sua situação. Nesse ponto é interessante como o autor apresenta de forma extremamente poética a agonia vivida por aquele pobre guarda. Sentimento comum a considerável parte das pessoas: a agonia da injustiça. Severino, personagem de Morte e Vida Severina, por sua vez, apesar de carregar um nome, carrega com esse o sofrimento de um povo de garra, mas que vive muitas vezes a mercê da indiferença de muitos.
Portanto, percebe-se que a literatura, além de trazer descontração, é um veículo fortemente cultural. Desse modo se percebe qual é realmente o papel que a própria sociedade oferece para a grande porção da humanidade, papéis esses que já não serão mais representados, mas vividos na vida real. Ser considerado mais um tem sido, de modo particular, onde a pobreza é mais explícita, ao que parece, objetivo de grande parte do poder público, para que dessa forma não se faça necessário preocupar-se com cada um dos miseráveis, mas com o número que cada um deles representa.

*Comentário sobre a obra de Sófocles, Antígona

Vida e morte*

A história da filosofia sempre se preocupou severamente com elementos da condição humana. Dentre seus campos de reflexão, um dos mais incisivos é o da ética. O filme Filhos da esperança simula uma situação para o ano de 2025, na qual todas as mulheres são inférteis, ou seja, já não nasce mais nenhuma criança. A esperança ressurge quando se descobre que uma mulher, chamada Kee, ficou grávida e dará a luz, trazendo assim a esperança. Na mesma história, por sua vez, aparece uma mulher numa condição de saúde de total invalidez. No presente texto, a partir da mãe que dá a luz e de Jasper que cuida de sua esposa, buscar-se-á, muito brevemente, fazer uma análise de como a vida pode ser pensada a partir de princípios éticos.
A emoção de ter um filho é, para Kee, ainda maior pois ela carrega em seu ventre um único sinal real de esperança. Para ter essa criança, a personagem tem de passar por diversas dificuldades, porém, nem isso a desanima. Na atualidade uma das grandes discussões éticas está em torno do aborto. Em tal reflexão, parece pertinente, pensar em que consiste o poder de uma mulher que tira a chance de viver de um ser humano indefeso.
Jasper, por sua vez, é um senhor com o espírito jovem e que cuida de sua esposa com muito carinho e atenção. Ela, conforme mostra o filme, não fala, não anda, não se move, ou seja, é totalmente dependente de seu marido. Em relação à eutanásia verifia-se que numa cultura, na qual somos o que fazemos, torna-se difícil compreender por que se deve cuidar de alguém que já não produz.
Portanto, essas duas complexas e polemicas situações, apesar de se tratarem de contextos diferentes, se remetem a uma mesma realidade: o que é a vida e porque viver. Tal problema, que perpassa a saúde pública, já tem deixado claro sua preocupação desde a Antigüidade. O professor Daniel Omar Perez na introdução da obra Filósofos e terapeutas em torno da questão da cura, apresenta o juramento que os médicos costumavam e costumam fazer para exercer seu trabalho. Nesse longo discurso um dos pontos é que o medico se compromete a não dar a nem uma mulher qualquer substância abortiva e tampouco, não entregará ninguém a morte, mesmo que esse esteja com graves problemas de saúde. Eis a atitude ética que conduziu tanto os médicos do passado, quanto Kee e Jasper do filme, ao aptarem pela vida.

*Comentário sobre o filme Filhos da Esperança

Filósofos e terapeutas*

A introdução da obra Filósofos e terapeutas em torno da questão da cura, organizado por Daniel Omar Perez, tomando como linha condutora o comentário de Raphael Correa, quer apresentar, de fato, o homem como sedo seu próprio terapeuta. É pertinente observar nesse ponto que tal afirmação parece ter como pressuposto a razão, que é a chave de compreensão para o pensamento filosófico. Por meio dela é que o indivíduo pode escolher qual é o direcionamento que pretende dar a sua vida.
Correa afirma que muitas vezes o ser humano pode se ver, seja conscientemente ou inconscientemente, impossibilitado de chegar a uma cura. Dessa forma, ao que parece, ele está remetendo-se à Perez em sua consideração de que “as doenças, segundo Antístenes (filósofo grego do século IV a.C.), aparecem quando nos afastamos da natureza e sua cura consiste em voltar para ela” (PEREZ, 2007, p.10). Tal afirmação do autor da obra, apesar de Silva não se prolongar nesse ponto que trata da corrente filosófica da “escola cínica”, afirma que para o homem encontrar a felicidade e a verdade é necessário que se faça a adesão a uma vida voltada para si mesmo, sem protocolos.
Raphael Correa em sua dissertação afirma que a filosofia, ou pelo menos algumas de suas teorias, visa construir ou reconstruir o homem que é necessitado de um auto-conhecimento. Dessa forma, ele parece apresentar com as palavras construir e reconstruir a idéia do homem em um constante processo de transformação. A própria história do pensamento filosófico é capaz de revelar a face desse ser humano que é atual, mas, que carrega consigo as características próprias do sua raça.
Portanto, percebe-se que a abordagem sobre a cura como foi proposto por Correa, baseado em Filósofos e terapeutas em torno da questão da cura, é de fundamental importância. Tal idéia acompanha, desde os primórdios, toda a concepção de filosofia e a necessidade de seu resgate. Com isso, se pode renovar a cada dia o ardor em alcançar a meta de levar a cura aos que estão doentes, tornando-se assim uma resposta não só para si mesmo, mas, para toda a humanidade.

*Comentário sobre a resenha de Paphael Correa (www.filoliber.blogspot.com) acerca do livro Filósofos e terapeutas em torno da questão da cura

Sabedoria*

O ser humano é capaz de construir, inventar, descobrir coisas gigantescas. Nessa grande engrenagem chamada produção tecnológica, pessoas ainda muito jovens, mas, com mentes brilhantes conseguem encantar a todos. Essas pessoas, sem dúvida, são essenciais para o desenvolvimento da humanidade, porém, não se pode cair na tentação de se esquecer que há outras pessoas que invés de produzir algo, cumulam sabedoria. Essa realidade pode-se perceber fortemente no personagem do adivinha Tirésias, da obra clássica Édipo rei.
Tirésias é peculiar em sua atuação na peça de Sófocles. Ele é o símbolo da sabedoria humana. Na modernidade a produção de coisas, coisas e mais coisas, sejam elas úteis ou não, palpáveis ou não, é uma realidade marcante. Algo tem valor se representa retorno financeiro, caso contrário é tempo perdido. Tempo é dinheiro. Dessa forma, a sabedoria, o conhecimento popular, não institucional, dos mais velhos são descartáveis. É mais fácil ler um livro da biografia de Bill Gates, do que se dar atenção à história contada por uma pessoa idosa a partir de sua experiência.
Portanto, percebe-se que cada vez mais as pessoas tem deixado, num processo progressivo, de dedicar atenção as pessoas com as quais se pode aprender aquilo que nenhum doutorado poderá ensinar: a arte de viver e viver bem. No individualismo crescente cada pessoa se basta. Por sua vez, não se pretende deixar de se considerar os benefícios das inovações no campo intelectual, porém, são justamente as pessoas que muitas vezes são consideradas cegas, assim como Tirezias o era, as capazes de identificar, mesmo sem se darem conta, as grandes implicações éticas contidas nas transformações da atualidade.


*Comentário sobre a obra teatral Édipo rei

quarta-feira, 12 de março de 2008

Nascimento

Sabemos quando uma criança nasceu pela sua certidão de nascimento. A criança que chega sempre nos traz alegria e esperança, mas também com ela vem a preocupação e a responsabilidade. A filosofia não surge do nada, mas é fruto de uma longa gestação. A data de seu nascimento não se sabe ao certo, porém, não se pode haver dúvida que com ela surgiram as alegrias e tristezas, esperanças e responsabilidades que são próprias daquele que fazem filosofia. Portanto, o presente texto terá por objetivo, de forma resumida, dar um panorama de alguns dos principais acontecimentos que marcam a bela gestação de nova maneira de ver o mundo.
Conforme John Burnet, em O despertar da filosofia grega, as primeiras preocupações da filosofia grega estão no âmbito da compreensão do mundo. Porém, o autor deixa claro que tal fato não se fecha num não conhecimento do mundo. Os antigos, apesar da escassez de informações, já tinham explorado, de alguma forma, tal terreno.
Para Giovanni Reale e Dario Antiseri, na obra História da Filosofia, há pontos que contribuem significativamente para a compreensão do inicio da filosofia de um povo e de uma civilização. Assim, deve-se fazer referência à arte, à religião e as condições sócio-política do povo.
Antes do nascimento da filosofia, a importância dos poetas para os gregos, seja na educação ou na formação de estrutura do homem, é singular. Homero é uma das principais expressões para tal cultura. Seus poemas não tratam dos mesmos elementos que estão contemplados em outras culturas, mas trás algumas características que se mostram essenciais para a criação da filosofia. Três pontos são apresentados pelos autores como relevantes: 1) a imaginação já se estrutura em um sentido de harmonia, de proporção e de medida, o que na filosofia leva inclusive a categoria de princípios ontológicos; 2) também o poeta pesquisa as razões e as causas dos fatos, levando assim a busca da causa e do princípio; 3) procura apresentar a realidade em sua totalidade, o que conduz a procura do lugar do homem no Universo.
Outro poeta também importante para os gregos é Hesíodo. Em sua Teogonia, ele traça de forma mítica-política (cosmogonia) a gênese do Universo. A partir de tal poema é aberto um caminho para a posterior cosmologia filosófica, na qual a fantasia será deixada de lado e buscará, por meio da razão, o princípio primeiro da qual tudo se gerou.
A religião, por sua vez, é outro elemento pertinente no conjunto da gênese da filosofia grega. Porém, alertam Reale e Antiseri, ao falar de religião grega se faz necessário distinguir entre religião pública e religião dos mistérios. Para a primeira tudo é explicado em função dos deuses. A segunda, por outro lado, tem suas próprias crenças específicas, embora se insira o quadro geral do politeísmo, e em suas próprias práticas. Dentre as mais relevantes está o Orfismo. Para essa filosofia, os estudiosos acreditam que a religião dos mistérios é a que mais contribuiu, dado o fato de que ela introduziu na civilização grega um novo esquema de crenças e uma nova interpretação da existência humana.
Por fim, no aspecto sócio-político, os autores afirmam que as condições dos gregos acerca da liberdade política bem como no âmbito religioso são mais favoráveis do que a dos orientais. De tal forma que isso serve de grande beneficio aos gregos. Foi nos séculos VII e VI a.C. que a Grécia, predominantemente agrícola, passou a desenvolver de forma sempre crescente a industria artesanal e o comercio. O novo modelo econômico alcançou pouco a pouco uma notável força, passando a opor-se a concentração do poder político que estava na mão da nobreza fundiária.
Portanto, percebe-se que, assim como uma criança, a filosofia não nasce do nada, mas é gestada dentro de um processo que intercala com diversos segmentos, como por exemplo os três que foram apresentados: o cultural, o religioso e o sócio-político. Porém, tais fatos não influenciaram apenas no início da filosofia, mas sim durante toda sua história e ainda hoje se renova a partir de tais princípios.


Referência:

ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni. História da filosofia. 4° ed. São Paulo: Paulus,1990.

BURNET, Jonh. O despertar da filosofia grega. São Paulo:Siciliano, 1994.
Sugestão de video:

Ser só!*

O filme A Odisséia retrata o fantástico mito grego de Ulisses que precisa partir, deixando sua amada esposa e seu recém nascido filho, para conquistar Tróia. Após vários anos de luta, ele por meio de um cavalo de madeira repleto de soldados, consegue passar pelos portões troianos e surpreender seus rivais. Com isso ele se acha um mortal invencível e que não depende dos deuses. Poseidon, deus do mar, por sua vez, o castiga por tal prepotência. Sua sina será não conseguir atravessar o mar para reencontrar sua família.
A relevância de tal mito parece ser muito grande diante das buscas do homem da atualidade. O jovem rei, dado sua perspicácia diante da conquista de Tróia, não se sente necessitado de qualquer outra força que não seja a sua própria. Ele se basta! Tal atitude se remete a uma forma de pensar que conduz o indivíduo a uma ambição desenfreada, na qual o outro deixa de ser parceiro para ser concorrente. Na verdade, um indivíduo usa o outro apenas para poder dizer que é melhor do que ele.
Para o filósofo Teilhard de Chardin, o Universo é o lugar onde todos se encontram para formar uma grande comunidade e assim, juntos, caminham para o ápice da evolução, o ponto Omega. A partir do momento que o ser humano passa a considerar auto-suficiente para viver de seu próprio poder, se depara com a tristeza de ver-se isolado, assim como Ulisses, de toda a face unitiva da terra.
Poseidon não age com maldade em relação a Ulisses. Ele apenas lhe quer mostrar o quanto o poder pode se esbarrar em limitações cotidianas. Portanto, hoje o que parece é que tais provações podem ser boas para o ser humano da atualidade. Cabe agora encontrar “os Poseidons” de nosso tempo, para que assim se busque uma vida menos egocêntrica e mais comunitária.
*Comentário sobre o filme A Odisseia

Heitor: exemplo de justiça*



Os mitos geralmente podem ser vistos e interpretados a partir de diversos pontos de vista. Tal fato não deixa de ocorrer no filme Tróia. Além de uma super produção, esse envolvente filme retrata um mito cheio de fatos que questionam o homem a todo instante. Dessa forma, parece pertinente observar qual é o papel de Heitor nessa história. Aquiles é o mais estulto, porém, é Heitor quem, com sua justiça, prudência e sabedoria, dá orgulho para o país. Fatos como deixar que os inimigos enterrarem seus mortos de guerra e se arrepender por matar um guerreiro ainda jovem demais, demonstra bem as características éticas desse personagem.
Para o contexto da época, morrer em guerra defendendo seu país, era uma honra. Porém, isso se concretiza quando o corpo do soldado pode ser queimado por seus compatriotas. Heitor, príncipe de Tróia e chefe do exercito, podia simplesmente ter proibido tal ato quando havia milhares de corpos de seus rivais espalhados em seu país. Esse comportamento poderia servir-lhe como sinal de superioridade. Entretanto, a atitude do jovem príncipe é justamente a de mandar um mensageiro para avisar que os corpos poderão receber as dignas exéquias.
Outro fato interessante é o de quando o primo de Aquiles se finge de Aquiles e luta com Heitor. O chefe do exercito o atinge na garganta. O rapaz cai e fica entre a vida e a morte. Qual a surpresa de Heitor ao ver, assim que tira o capacete do rapaz, que não era Aquiles. Heitor poderia ter deixado seu inimigo perecendo aos poucos tanto no orgulho, quanto biologicamente. A atitude de cravar sua espada no peito do primo de Aquiles para que sua morte seja mais rápida, cessando assim a dor, e o arrependimento pelo fato de ter matado alguém ainda muito jovem revelam quão grande era sua justiça perante os homens.
Não se trata de colocar a guerra como justa. O que esta em foco é a heróica atitude de um jovem príncipe que poderia agir apenas guiado pelo poder e pelo reconhecimento. Portanto, parece essencial a observação de como o ser humano tem buscado conduzir sua vida. Ser justo, ser honesto, ter compaixão tem se apresentado mais como ato de loucura do que de seres humanos em sã consciência. Todavia, esse é o desafio para o mundo de hoje que somente os corajosos, como o inesquecível Heitor, tem a coragem de enfrentar.
*Comentário sobre o filme Tróia