sexta-feira, 14 de março de 2008

Qual é o seu nome?*


─ Você conhece a Maria?
─ Que Maria?
─ A Maria do Zé ...
A literatura é sempre um meio que por excelência consegue apresentar, com seu jogo de palavras, textos esplêndidos, porém, há elementos que estão guardados. Esses geralmente são os mais preciosos. Isso se pode observar desde a clássica obra de Sófocles, Antígona, até a atual obra de João Cabral de Melo Neto, Morte Vida Severina.
O nome é o que identifica cada pessoa. Em Antígona parece peculiar o fato do guarda não ter nome. O nome só é concedido aqueles que vivem nas proximidades do rei, do poder. Pior que não ter nome é ser portador de desgraças, como é a sua situação. Nesse ponto é interessante como o autor apresenta de forma extremamente poética a agonia vivida por aquele pobre guarda. Sentimento comum a considerável parte das pessoas: a agonia da injustiça. Severino, personagem de Morte e Vida Severina, por sua vez, apesar de carregar um nome, carrega com esse o sofrimento de um povo de garra, mas que vive muitas vezes a mercê da indiferença de muitos.
Portanto, percebe-se que a literatura, além de trazer descontração, é um veículo fortemente cultural. Desse modo se percebe qual é realmente o papel que a própria sociedade oferece para a grande porção da humanidade, papéis esses que já não serão mais representados, mas vividos na vida real. Ser considerado mais um tem sido, de modo particular, onde a pobreza é mais explícita, ao que parece, objetivo de grande parte do poder público, para que dessa forma não se faça necessário preocupar-se com cada um dos miseráveis, mas com o número que cada um deles representa.

*Comentário sobre a obra de Sófocles, Antígona

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