sexta-feira, 14 de março de 2008

Sabedoria*

O ser humano é capaz de construir, inventar, descobrir coisas gigantescas. Nessa grande engrenagem chamada produção tecnológica, pessoas ainda muito jovens, mas, com mentes brilhantes conseguem encantar a todos. Essas pessoas, sem dúvida, são essenciais para o desenvolvimento da humanidade, porém, não se pode cair na tentação de se esquecer que há outras pessoas que invés de produzir algo, cumulam sabedoria. Essa realidade pode-se perceber fortemente no personagem do adivinha Tirésias, da obra clássica Édipo rei.
Tirésias é peculiar em sua atuação na peça de Sófocles. Ele é o símbolo da sabedoria humana. Na modernidade a produção de coisas, coisas e mais coisas, sejam elas úteis ou não, palpáveis ou não, é uma realidade marcante. Algo tem valor se representa retorno financeiro, caso contrário é tempo perdido. Tempo é dinheiro. Dessa forma, a sabedoria, o conhecimento popular, não institucional, dos mais velhos são descartáveis. É mais fácil ler um livro da biografia de Bill Gates, do que se dar atenção à história contada por uma pessoa idosa a partir de sua experiência.
Portanto, percebe-se que cada vez mais as pessoas tem deixado, num processo progressivo, de dedicar atenção as pessoas com as quais se pode aprender aquilo que nenhum doutorado poderá ensinar: a arte de viver e viver bem. No individualismo crescente cada pessoa se basta. Por sua vez, não se pretende deixar de se considerar os benefícios das inovações no campo intelectual, porém, são justamente as pessoas que muitas vezes são consideradas cegas, assim como Tirezias o era, as capazes de identificar, mesmo sem se darem conta, as grandes implicações éticas contidas nas transformações da atualidade.


*Comentário sobre a obra teatral Édipo rei

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